sábado, 31 de janeiro de 2009

REFLEXÃO CRÍTICA


Habituamo-nos a associar os cuidados de Saúde à geração da vida, à sua manutenção, à prevenção da doença. Mas quando entrámos num Serviço de Medicina, confrontámo-nos com um outro cenário: pessoas na sua maioria idosas, que lamentam a falta de visitas e de preocupação por parte de familiares e amigos, isolamento social, abandono.
É impressionante a frequência da recorrência ao Serviço Social da Instituição na aproximação dos momentos de altas.
Algo que sem dúvida me marcou mais, foi também a assistência na hora da morte. A indecisão acerca da existência/ausência de dor, acerca da consciência/inconsciência do enfermo, o sentimento de impotência, de insegurança da nossa parte.
Como ultrapassar tudo isto? Por incrível que soe, debruçando-nos sobre o cuidado aos outros utentes. À recordação dos seus sorrisos quando lhes dizemos que têm uma camisa de noite invejável; quando nos falam dos seus netos; dos seus beijos; dos seus cheiros; dos seus olhares reconfortantes quando lhes tocámos para avaliar o pulso ou a frequência respiratória, e nos dizem que já não sentiam um toque, um carinho há tanto tempo, e que “Sabe bem!”; dos seus desabafos. Somos cuidadores, mas para além de tudo isto, temos também um papel de “alívio de alma” dos nossos doentes.
A certeza de que é realmente este o meu caminho, cresceu de forma admirável neste Estágio: a relação que os profissionais têm entre si, a boa disposição entre eles, ver um enfermeiro caminhar pelo corredor mão-na-mão com uma utente…
Dizem que o Serviço de Medicina é “pesado”. É sim. Lá dentro sentem-no. Mas quando saem e sentem a brisa passar, a luz natural a baterem-lhe nos olhos, inspiram profundamente, e fazem um balanço rápido do que viveram naquele turno, sentem: “Quero fazer disto a minha vida”.

3 comentários:

Anónimo disse...

como te entendo...
o mais pesado no meio de tudo isto, nao passa por nao ter capacidade para fazer adequadamente posicionamentos, passa sim por ver em cada novo dia o abandono a que seres humanos sao deixados.
Tambem eu um dia serei velha, tb eu quiça ficarei doente e estarei num serviço destes, nao como enfermeira mas como utente, espero somente que nessa altura me reste amor dos que eu sempre amei...
beijinho

Anónimo disse...

felizmente, há um grande número de enfermeiros e outros prestadores de serviços de Saúde que conseguem ver a verdadeira importância da sua funcão.
ser enfermeiro não pode ser visto da mesma maneira como ser caixa num supermercado. ser enfermeiro implica ter vocação.
num hospital ou centro de saúde, lida-se com a Vida e com a Morte de pessoas.cada dia uma nova esperança, uma alegria por ver e contribuir para a melhoria do estado de saúde de alguém que nem se conhece , mas a quem se fica ligado\a num momento que é dificil.
outros dias nem tudo corre bem e é o ''inimigo''(doença) que vence.há tristeza e sentimento de perda, mas há que lembrar que na cama que ficou vazia já deve estar deitada outra pessoa. uma outra doença, uma outra vivência, mas alguém que assim como muitos outros no passado ''depositam'' o seu corpo fragilizado, e muitas das vezes a sua alma, nas mãos de ''anjos'' vestidos de bata branca.
pena é que na enfermagem, assim como em qualquer profissão, hajam aqueles que só têm olhos para o cheque no final do mês, esquecendo de olhar com olhos de ver, as pessoas que tratam como se fossem sacos de batatas.
imagino que por vezs seja mais fácil desligar o interruptor dos sentimentos, mas ao fazer-se isso perde-se uma das coisas que acho mais importante na vossa profissão....
o amor ao próximo!!
há palavras de ânimo,carinhos, sorrisos, que conseguem ser tão terapêuticos como uma qualquer injecção ou comprimido.usar e abusar deles só contribui para o bem estar,tanto de doente como de enfermeiro.
apesar do pouco que conheço de ti ,sei que vais ser um autêntico anjo de bata branca. :-))
jinhos e coiso i tal :-)))
(toma 50mg deles 8 vezes ao dia.podes nem tar doente,mas mal também não fazem)

ass: um ''sô dótôr''

Peek-a-boo disse...

Moça,
Wise words.
É bom ler-te... mas não te deixes "agarrar", há uma vida que ainda é tua... vive enquanto podes.
beijos