quinta-feira, 4 de julho de 2013

Aos Estagiários de Enfermagem

Há já algum tempo que entre conversas no trabalho, contava sucintamente episódios enquanto tinha sido estagiária de enfermagem. Para mim, eram conversas naturais, sem surpresa, já que em quase todos os estágios que fiz, existiram orientadores, enfermeiros, ou gente que saía nem sei bem de onde, para dar ordens, ameaçar uma ou outra reprovação, humilhar, espezinhar, fincar a superioridade do enfermeiro face ao estagiário. Mas a cereja no topo do bolo, foi quando me disseram por duas vezes e em estágios diferentes que não tinha sido feita para ser enfermeira. E diga-se, quando somos estagiários, a tendência é ouvir e calar.
Numa ocasião, enquanto contava um dos episódios em que uma enfermeira responsável de uma Psiquiatria de Portugal bem conhecida (e diga-se de passagem, incompetente ela sim para ser enfermeira) me disse que não tinha nascido para ser enfermeira, uma auxiliar que trabalha comigo ficou chocada. Perguntou-me como era possível uma formadora dizer isso a um formando num curso tão importante e ainda por cima a mim (antes de continuar, convém salientar que estou a exercer fora do país). Não sou um  protótipo da SUPER ENFERMEIRA nem a Florence Nightingale, mas trabalho com o coração, com as mãos, com o toque terapêutico, com os miolos que trabalharam 4 anos sem parar, inclusivé fins-de-semana, para memorizar, aprender, melhorar. E foi quando aquela auxiliar, cheia de boa vontade e de espírito magnífico me interpelou, que tomei consciência da enormidade de vezes a que alguns enfermeiros me faltaram o respeito, me humilharam e me maltrataram psicológicamente. Não deve ser novidade para quem é da área, de alunos que choraram ou pensaram desistir do curso tamanha era a pressão.
Penso que devem de existir dezenas de explicações para tamanhas atitudes : frustrações de ordem pessoal, competição, quererem provar que são os melhores porque na verdade não se sentem seguros, etc. Mas sinceramente, pouco me importa.  O ponto fulcral deste texto é poder exprimir, hoje, passados 3 anos, e sendo hoje ENFERMEIRA-CHEFE ADJUNTA, que com o respeito, também se pode formar pessoas. E aos alunos de enfermagem em Portugal que neste momento ou num futuro próximo possam sofrer baixas de auto-estima graças aos pseudo SUPER ENFERMEIROS, se puderem fazer o que eu nunca fiz, ou seja, fazer queixa e denunciar, tiro-vos o chapéu, aplaudo-vos de pé, e vocês sim, serão os verdadeiros.

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