quinta-feira, 7 de março de 2013

A ética da morte

Ontem, enquanto ajudava um doente a deitar-se, doente esse que se recusa a alimentar-se, hidratar-se e a tomar medicação, ocorreram-me várias reflexões.

Até onde e quando podemos obrigar alguém a alimentar-se enfiando-lhe sondas nasogástricas a torto e a direito?

Até onde e quando podemos obrigar alguém a ter uma perfusão contínua para hidratar?

Eu, pessoalmente, nunca obrigarei ninguém a usar uma sonda nasogástrica sem o seu consentimento.

Nunca obrigarei ninguém a tomar a medicação ou irei introduzir catéteres venosos e invadir membros para introduzir NaCl's aos litros.

Todo o doente que esteja com todas as suas faculdades mentais e mesmo aquele que não as tenha todas mas que consiga justificar convenientemente o porquê da recusa (sim, porque para que conste, muitas pessoas na última linha recta da sua vida, mesmo com Alzheimer ou outras demências, sabem perfeitamente como e quando querem morrer), têm o direito de recusar um tratamento.

E isso, muitas famílias, médicos e enfermeiros não parecem saber. Querer agarrar alguém a uma vida que já chegou ao momento de se extinguir, não cabe a mais ninguém que não à pessoa.

Hoje é só isto. E já dá muito, espremendo bem.


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